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29 abril 2014

Não somos macacos


Este não é um post sobre Darwinismo e evolução das espécies.


Durante a partida válida pelo Campeonato Espanhol, disputada entre Villareal e Barcelona, uma banana foi atirada a campo no momento que o brasileiro Daniel Alves se preparava para cobrar o escanteio. Num ato de pura genialidade ele simplesmente pegou a fruta e comeu, cobrou o escanteio e seguiu na partida. Nem desviou o olhar para as arquibancadas do estádio El Madrigal.

Com alguma propriedade eu posso dizer que o Daniel não é dos jogadores mais bem quistos pelos torcedores que acompanham o futebol. Tem uma postura que passa irresponsabilidade e um ar de “não estou nem aí”, o que acaba por minar a confiança que ele como defensor deveria passar. Mas ontem ele ganhou alguns fãs, ou pelo menos respeito de alguns que não gostam dele como jogador. Pelo menos foi assim comigo.

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Tratar com desprezo é das melhores formas de contra atacar agressores. Ele poderia ter dado um chilique, ter levado a banana até o árbitro, xingado os torcedores, saído de campo, opções válidas e possíveis, mas que externariam que ele sentiu o golpe, o que com certeza satisfaria quem cometeu o racismo. Quando ele “caga e anda” pra atitude, ele não está deixando pra lá um grave problema, ele simplesmente não está dando atenção a um imbecil que além de ofender queria isso: ser notado. A mensagem que o Daniel me passa é a seguinte: “tem um ignorante querendo aparecer, eu não vou me rebaixar a esse nível e responder; existem órgãos responsáveis pra julgar esse tipo de situação”.

Apesar da excelente atitude do Daniel, não foi o principal motivo pra eu ter saído da hibernação e ter voltado a escrever. Noite de domingo. Neymar, que não jogou por estar lesionado, faz uma foto com seu filho, uma banana de pelúcia e a seguinte hashtag “#somostodosmacacos”. Esta foi a forma que ele encontrou pra apoiar o companheiro de clube, seleção e profissão. Vocês sabem como as coisas se espalham com enorme velocidade nessa terra de ninguém popularmente conhecida por Internet, principalmente quando vem de um ícone (gostem ou não). Vários anônimos e famosos usando a hashtag e posando com bananas de todas as formas. Foi Trending Topics no Twitter, provavelmente também dos assuntos mais comentados do dia no Facebook e Instagram. Ou seja, sucesso mundial em questão de minutos.


Sucesso que durante a segunda-feira foi credenciado à agência publicitária Loducca, pois foi de lá que saiu a ideia pra foto e pra tag. E o apoio contra o racismo (e outras causas nesse nível) é sempre bem-vindo, mas a frase escolhida foi de uma infelicidade tremenda. Vi muita gente criticando o fato da ideia ter vindo de uma agência e nem é o meu incômodo principal. Algumas personalidades estão tão inseridas na mídia que 99% do que fazem ou pensam passa pelo mundo corporativo de alguma forma. Com um jogador do tamanho do Neymar não é diferente.

Aaaaaah esses macacos
Mas dizer que “somos todos macacos”? Não, não somos. O Daniel não é, o Neymar não é, eu não sou, e nenhuma pessoa é quando usam essa palavra pra denegrir, pra ser racista. Isso é minimização do problema, é aceitar o tratamento discriminatório e passar a mensagem de “pode continuar usando esses termos que tá ok”. E não tem nada ok. Por isso me incomodei em como essa infeliz frase se compartilhou com tamanha facilidade. É obrigatório que tenha punições em casos assim, e falo isso sem o menor conhecimento da legislação da Espanha e do restante do mundo. Mas tem que punir. E se for punir como se “pune” no Brasil nada muda (quantos foram presos pelo racismo ao árbitro lá no Rio Grande do Sul?).

O que sei é que o torcedor em questão foi banido pelo Villareal de todos os jogos daqui pra sempre. Ótimo começo. Sei que o dono do Los Angeles Clippers acabou com o time dele depois de ser racista, e além de ter perdido esportivamente também perdeu economicamente, já que todos os patrocinadores largaram o time depois dele pedir pra sua namorada não tirar mais fotos com negros, além de não levá-los ao ginásio, pois não queria ser associado com as minorias.

Completando o circo de infelicidade eu tenho que me deparar com Luciano Huck vendendo uma camisa estampando essa frase. Se não bastasse minimizar a questão ainda quer mercantilizá-la? É demais pra minha cabeça. Apesar de vindo de quem vem não me surpreende nem um pouco.


Bom. É isso. Apenas pensem antes de sair compartilhando as coisas e seguindo certos modismos.

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