Este
não é um post sobre Darwinismo e evolução das espécies.
Durante
a partida válida pelo Campeonato Espanhol, disputada entre Villareal e
Barcelona, uma banana foi atirada a campo no momento que o brasileiro Daniel
Alves se preparava para cobrar o escanteio. Num ato de pura genialidade ele
simplesmente pegou a fruta e comeu, cobrou o escanteio e seguiu na partida. Nem
desviou o olhar para as arquibancadas do estádio El Madrigal.
Com
alguma propriedade eu posso dizer que o Daniel não é dos jogadores mais bem
quistos pelos torcedores que acompanham o futebol. Tem uma postura que passa
irresponsabilidade e um ar de “não estou nem aí”, o que acaba por minar a
confiança que ele como defensor deveria passar. Mas ontem ele ganhou alguns
fãs, ou pelo menos respeito de alguns que não gostam dele como jogador. Pelo
menos foi assim comigo.
Tratar
com desprezo é das melhores formas de contra atacar agressores. Ele poderia ter
dado um chilique, ter levado a banana até o árbitro, xingado os torcedores,
saído de campo, opções válidas e possíveis, mas que externariam que ele sentiu
o golpe, o que com certeza satisfaria quem cometeu o racismo. Quando ele “caga
e anda” pra atitude, ele não está deixando pra lá um grave problema, ele
simplesmente não está dando atenção a um imbecil que além de ofender queria
isso: ser notado. A mensagem que o Daniel me passa é a seguinte: “tem um ignorante
querendo aparecer, eu não vou me rebaixar a esse nível e
responder; existem órgãos responsáveis pra julgar esse tipo de situação”.
Apesar
da excelente atitude do Daniel, não foi o principal motivo pra eu ter saído da
hibernação e ter voltado a escrever. Noite de domingo. Neymar, que não jogou por
estar lesionado, faz uma foto com seu filho, uma banana de pelúcia e a seguinte
hashtag “#somostodosmacacos”. Esta foi a forma que ele encontrou pra apoiar o
companheiro de clube, seleção e profissão. Vocês sabem como as coisas se
espalham com enorme velocidade nessa terra de ninguém popularmente conhecida
por Internet, principalmente quando vem de um ícone (gostem ou não). Vários
anônimos e famosos usando a hashtag e posando com bananas de todas as formas. Foi
Trending Topics no Twitter, provavelmente também dos assuntos mais comentados
do dia no Facebook e Instagram. Ou seja, sucesso mundial em questão de minutos.
Sucesso
que durante a segunda-feira foi credenciado à agência publicitária Loducca,
pois foi de lá que saiu a ideia pra foto e pra tag. E o apoio contra o racismo
(e outras causas nesse nível) é sempre bem-vindo, mas a frase escolhida foi de
uma infelicidade tremenda. Vi muita gente criticando o fato da ideia ter vindo
de uma agência e nem é o meu incômodo principal. Algumas personalidades estão
tão inseridas na mídia que 99% do que fazem ou pensam passa pelo mundo
corporativo de alguma forma. Com um jogador do tamanho do Neymar não é
diferente.
Aaaaaah esses macacos |
Mas
dizer que “somos todos macacos”? Não, não somos. O Daniel não é, o Neymar não
é, eu não sou, e nenhuma pessoa é quando usam essa palavra pra denegrir, pra
ser racista. Isso é minimização do problema, é aceitar o tratamento
discriminatório e passar a mensagem de “pode continuar usando esses termos que
tá ok”. E não tem nada ok. Por isso me incomodei em como essa infeliz frase se
compartilhou com tamanha facilidade. É obrigatório que tenha punições em casos
assim, e falo isso sem o menor conhecimento da legislação da Espanha e do
restante do mundo. Mas tem que punir. E se for punir como se “pune” no Brasil
nada muda (quantos foram presos pelo racismo ao árbitro lá no Rio Grande do Sul?).
O
que sei é que o torcedor em questão foi banido pelo Villareal de todos os jogos
daqui pra sempre. Ótimo começo. Sei que o dono do Los Angeles Clippers acabou
com o time dele depois de ser racista, e além de ter perdido esportivamente
também perdeu economicamente, já que todos os patrocinadores largaram o time
depois dele pedir pra sua namorada não tirar mais fotos com negros, além
de não levá-los ao ginásio, pois não queria ser associado com as minorias.
Completando
o circo de infelicidade eu tenho que me deparar com Luciano Huck vendendo uma camisa
estampando essa frase. Se não bastasse minimizar a questão ainda quer
mercantilizá-la? É demais pra minha cabeça. Apesar de vindo de quem vem não me
surpreende nem um pouco.
Bom. É isso. Apenas pensem antes de sair compartilhando as coisas e seguindo certos modismos.
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