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14 junho 2013

Brasil, 13 de Junho de 2013




Não sei se aqui é espaço pra isso, nunca imaginei que fosse parar para escrever sobre isso, mas é impossível ficar alheio a todos os fatos que vem ocorrendo nesta semana que chega ao seu fim. Sei que 99% das pessoas que eu conheço não vão ler esse texto, muito menos pensar sobre os temas e repercuti-los, mas esse 1% me deixará muito feliz, independente da opinião ser semelhante ou não à minha. Talvez não mude nada, talvez as pessoas esqueçam isso com o tempo (ação tão típica neste nosso Brasil), mas pra mim o dia 13 de junho já ganhou espaço especial como dia marcante de alguma forma.

Aconteceu tanta coisa nesta quinta-feira que eu não sei nem por onde começar. Foi mais um dia de manifestações populares contra o aumento das passagens no transporte coletivo (não vou chamar de público algo que não é público) de São Paulo. Também houve manifestações em outras cidades, mas vou focar em São Paulo, por toda a importância que ela tem e por tudo que ocorreu em solo paulistano. É difícil eu fazer um relato preciso de todos os acontecimentos, pois eu não moro em São Paulo, não estava presente, então a maioria dos fatos que eu narrar por aqui são de acordo com situações que eu tenha lido ou visto, e a partir disso tirei minhas conclusões seguindo aquilo que eu acredito ser o mais certo.

A concentração para o protesto em São Paulo foi marcado para o fim da tarde em frente ao Theatro Municipal na Praça Ramos de Azevedo, centro da capital paulista. Com boa presença de manifestantes (mais velhos ou mais novos, mais ricos ou mais pobres) caminharam pacificamente pela Xavier de Toledo em direção a Consolação – e é bom destacar, de que com convivência pacífica com alguns poucos policiais militares. A ideia inicial da passeata era sair do centro e chegar até a Paulista via Consolação, mas ao chegar à esquina da Maria Antonia tudo desandou. Não consegui achar algum motivo causador dessa mudança.

Bombas, balas de borracha, cavalaria, lixo, fogo, pedras, violência gratuita, vandalismo, correria, pânico, feridos, detidos. E uma vez que o caos é instalado, não espere que as coisas se resolvam bem. Nós somos um povo despreparado e não acostumado a passeatas e manifestações, do outro lado deste cenário temos autoridades tão ou mais despreparadas.

Giuliana Vallone, repórter da TV Folha
A multidão (que poderia ser facilmente controlada se houvesse um planejamento mínimo para situações como manifestações) se dividiu pelas ruas paralelas à Consolação – Augusta, Bela Cintra, Haddock Lobo, Angélica – e o confronto com a Polícia Militar tornou-se uma constante na noite paulistana. A avenida mais importante da América Latina virou campo de batalha de uma guerra, no mínimo, imbecil.

Centenas de detidos, dezenas de feridos e agredidos. A atuação da Polícia Militar de São Paulo foi vergonhosa. Quase tão vergonha quanto os tweets do Sr. Governador Geraldo Alckmin enquanto a capital do estado que governa entrava em colapso. Quase tão vergonhoso quanto o responsável pela operação, Sr. Major Lídio Costa Júnior, do Policiamento de Trânsito da Polícia Militar, declarar que a situação fugia do controle e não se responsabilizava pelos acontecimentos dali em diante.

E o que aconteceu dali em diante foram cenas e mais cenas de gigantesca truculência e imbecilidade por parte dos militares. Conhecendo o Brasil e as autoridades policiais eu tenho medo de pensar no que aconteceu nas delegacias paulistanas. Todos os cidadãos (baderneiros, manifestantes, jornalistas, simples trabalhadores tentando voltar pra casa) foram transformados em inimigos pela Polícia Militar.


Quero deixar aqui bem claro, que apesar de totalmente favorável às greves e passeatas eu sou totalmente contra o vandalismo e depreciação de patrimônio alheio. Se alguém infiltrado nessas manifestações (e infelizmente sempre há) foi baderneiro, que seja punido por isso na Justiça e não pela PM, na medida da possível, porque eu tenho noção de que não se prende nenhum vândalo pedindo “Por favor”, mas uma grande maioria da população não pode pagar de forma aleatória pelo erro de alguns.

Outra coisa que me incomoda bastante (e infelizmente também tem vínculo perpétuo com essas passeatas aqui no Brasil) é a presença dos partidos políticos com seus militantes empunhando suas bandeiras. Sonho com o dia que só verei bandeiras do Brasil. Se acredito pouco nos políticos, acredito ainda menos nos partidos dos quais eles fazem parte. Acho importante falar disso, pois não sou de esquerda, nem de direita, nem liberal, nem conservador.

As manifestações não foram pelo aumento de centavos. As manifestações aconteceram por MAIS um aumento num serviço que é mal entregue e sem previsão de melhora. Talvez esses sejam os primeiros protestos por razões econômicas desse país que não tem nem 200 anos ainda. Os governos que controlaram bem a inflação do Plano Real até os dias de hoje, partilharam melhor a renda e trouxeram uma boa fatia da população para o consumo, o que é louvável, diga-se de passagem. Mas se não há incentivo à produção, a conta é simples e qualquer estudante de Economia 101 pode explicar: mais dinheiro, mais consumo, mais demanda, e se a oferta não acompanha, os preços sobem e temos inflação. E é onde estamos hoje. É onde nossa economia está hoje, por mais que o Guido Mantega seja irritantemente otimista. Eu não sei se as pessoas que foram pras ruas tem isso na cabeça, acho que não. Sinceramente eu não sei que propostas elas tem pra melhorias (mais do que necessárias) no transporte coletivo, mas não podia deixar de trazer esse plano de fundo econômico para o debate.

Democracia não é a ditadura da maioria. Eu não preciso concordar com as manifestações para achá-los legítimos, mesmo que isso cause algum transtorno (que poderia ser minimizado). Democracia não é calar (ou tentar) a população e a imprensa. O democrático Brasil tem muita coisa a reclamar. Eu torço muito para que o povo acorde e vá atrás daquilo que deveria ser seu de fato, e não só de direito. O primeiro passo pra cura é perceber que se está doente, e já passou da hora de olhar para a nossa realidade e ter noção do quanto as coisas estão erradas por aqui. Que as avenidas de todas as cidades brasileiras se tornem Avenida 9 de Julio, não há vergonha nenhuma em copiar nossos hermanos nesse aspecto. Que existam passeatas, diariamente se for o caso, enquanto não se resolva o que tiver que resolver. E que se pare de tratar os manifestantes estrangeiros como ativistas geniais e os brasileiros como vagabundos baderneiros.

700 mil vagabundos (?) contra Cristina Kirchner
Quem vai melhorar o Brasil não são os políticos, o Eike Batista ou o Luciano Huck. Esses com certeza NÃO vão melhorar o Brasil. Quem pode melhorar esse país é o povo, desde que aja como povo e não como massa de manobra preguiçosa que tira a bunda da cadeira de dois em dois anos pra votar, e votar mal. Se tiver que ser na marra, foda-se, é o preço que a gente vai ter pagar pra ser um país de verdade. Do povo para o povo.

Vamos pra Rua, Brasil!
Dia 13 de junho é um dia pra nunca mais esquecer. Que dia 13 de junho não acabe.



Deixo aqui alguns links para que vocês leiam e assistam aos vídeos. Foram esses links que me fizeram não dormir essa noite, que afloraram esse sentimento de indignação com tudo o que aconteceu, com os rumos que o país tá tendo (espero que o conteúdo deles não suma e vocês também possam ler e ter as reações de vocês).


2 comentários:

  1. Gostei da coesão e racionalidade Gomes.
    Compartilhamos os mesmos anseios.

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  2. Mais uma vez, brilhante em seus comentários. Relata tudo o que eu penso.

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